novembro 17, 2025
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Ex-vereador Ruan Kenobby detalha por escrito fraude à cota de gênero no DC ao TRE

O ex-parlamentar cita pagamentos e candidaturas fictícias como a candidatura de mulher de funcionário com 20 votos e aponta repasses mensais para cumprir exigência legal

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O ex-vereador Ruan Kenobby apresentou uma confissão por escrito afirmando ter participado de um esquema de fraude à cota de gênero nas eleições municipais de 2024 no partido Democracia Cristã (DC), quanto tentou reeleição e acabou ficando como suplente. A manifestação foi protocolada como alegações finais de uma Ação de Investigação Judicial Eleitoral, em tramitação na 5ª Zona Eleitoral, a qual o Portal O Fato teve acesso.

No documento ele afirma que tentou prestar essas informações de forma oral durante a audiência de instrução, realizada no dia 12, mas não conseguiu se manifestar. “Tentei proferir isso na audiência de instrução e julgamento ocorrida no mesmo dia, mas infelizmente Vossa Excelência não permitiu que eu falasse”, escreveu.

No documento, ele admite que grande parte das candidaturas femininas registradas pelo partido tinha caráter apenas formal, para atender à exigência mínima prevista na legislação eleitoral.

“A verdade é que 90% das mulheres que foram candidatas pelo nosso partido foram apenas para cumprir a cota de gênero”, confessou.

Ele cita vereadores como responsáveis pela articulação interna das candidaturas.“Os cabeças de tal operação são os vereadores Adnan Wadson de Lima e Roberto Conceição dos Santos Franco, que também são os maiores beneficiados de tal fraude”, declarou.

Candidata com 20 votos

Como exemplo, Ruan menciona a candidatura de Andrea Cordeiro da Silva, que, segundo ele, foi registrada apenas para compor a cota mínima de gênero. No texto, ele afirma que Andrea era esposa de Jefre Afonso Lira Teles, funcionário comissionado do gabinete dele na Câmara Municipal de Boa Vista, e que teria recebido apenas 20 votos no pleito, número utilizado por ele como indicativo da suposta ausência de campanha.

Ele afirma ainda que Jefre, durante o período eleitoral, teria pedido votos para o próprio Ruan, e não para a esposa, apresentando a situação como indício de que a candidatura teria sido apenas formal.

Citações de pagamentos e nomes de envolvidos

Na confissão, o ex-vereador também relata que havia um acordo para pagamento mensal de R$ 1.000,00 para cada candidata considerada “fake”.

“Paguei R$ 1.200,00 ao vereador Adnan e mais R$ 800,00 em espécie, referente a duas candidatas daquele mês. Depois disso, os pagamentos passaram a ser feitos em espécie na sede do DC, entregues ao senhor Dermailton Bezerra (Miúdo), para que não houvesse transferência bancária da minha conta e dos demais vereadores”, afirma em outro trecho da confissão.

Após esse período, segundo ele, os valores passaram a ser entregues em dinheiro vivo diretamente ao então presidente municipal do partido Dermailton Bezerra (Miúdo), na sede do DC (Democracia Cristã), com o objetivo de evitar rastreamento bancário.

Ruan afirma que os vereadores Adnan Wadson de Lima e Roberto Conceição dos Santos Franco seriam, nas palavras dele, “os cabeças de tal operação” e “maiores beneficiados” da suposta fraude. Ele declara ainda que Roberto Franco teria participado ativamente nos preparativos e repasses.

Indícios de fraude

O documento organiza um conjunto de elementos que, segundo ele, comprovariam a existência da fraude:

  • vínculo funcional de Jefre com seu gabinete na Câmara Municipal;
  • suposta troca de favores envolvendo a indicação de Andrea para receber medalha honorífica na Câmara;
  • conversas por mensagens, mencionadas como evidências de articulação;
  • a discrepância entre o número de seguidores de Andrea em redes sociais e a votação final obtida.

Candidaturas femininas sob suspeita

Em uma matéria publicada pelo Portal O Fato em fevereiro deste ano, o ex-vereador listou diversas candidatas do DC que, segundo a denúncia, tiveram pouca ou nenhuma atividade eleitoral. O documento aponta baixa votação, ausência de movimentação nas redes sociais e prestação de contas padronizada, sugerindo que os recursos destinados às campanhas foram repassados diretamente ao partido. As candidatas mencionadas são:

  • Andrea Cordeiro da Silva (Dra. Andréa) – 20 votos. Não teve publicações de campanha nas redes sociais e seu perfil informado no Instagram não existe ou foi removido.
  • Elane Florêncio Rodrigues (Elane Florêncio) – 499 votos. Apesar de ter sido a candidata feminina mais votada do partido, não há indícios de campanha ativa.
  • Eliza da Silva Souza (Eliza Anjinha) – 14 votos. Fez 11 postagens no Instagram, mas nenhuma relacionada a materiais informados na prestação de contas.
  • Geane Costa Machado (Geane Machado A Loira do Salão) – 41 votos. Publicou apenas uma vez no Instagram, no dia da convenção do partido.
  • Julyanna Almeida da Silva (Julyanna Almeida) – 8 votos. A rede social informada na candidatura não existe ou foi apagada.
  • Maria Ednalva da Silva Feitosa (Konchita) – 27 votos. Fez uma única publicação relacionada à campanha e manteve materiais antigos de eleições passadas.
  • Nadia Marques dos Santos (Nadia Marques) – 19 votos. Publicou quatro vezes durante o período eleitoral, sem conteúdos que indicassem campanha ativa.
  • Maria Socorro Sicales Campos (Socorro Sicales) – 6 votos. Não informou redes sociais à Justiça Eleitoral e sua última postagem no Facebook é de 2022.

Processo segue em julgamento

Ruan encerra o texto dizendo assumir responsabilidade por sua participação no esquema e pedindo que suas declarações sejam consideradas pelo juiz no desfecho da AIJE.

“Assumo toda responsabilidade pelas afirmações apresentadas e peço que sejam consideradas por vossa Excelência no julgamento”, concluiu.

Veja também:

Ex-vereador Ruan Kenobby revela ter provas de fraude à cota de gênero com candidaturas “fictícias” no DC em 2024

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