O Parque Cemitério Nossa Senhora da Soledade, um dos monumentos históricos mais antigos de Belém, segue fechado para a população enquanto passa por uma minuciosa restauração. Localizado na avenida Serzedelo Corrêa, no bairro Batista Campos, o espaço, que mistura história, memória e lazer, tem gerado expectativa entre comerciantes e moradores da área, que reclamam da demora nas obras e da ausência de informações claras sobre a reabertura definitiva.
Inaugurado em 1850, o cemitério foi construído para receber vítimas de epidemias como a febre amarela e o cólera e funcionou como campo santo até 1880, quando foi fechado para sepultamentos. Tombado como patrimônio histórico e cultural pelo Iphan em 1964, o espaço permaneceu durante décadas em situação de abandono, até que em 2021 passou por uma intervenção da Secretaria de Cultura do Estado (Secult) e da Universidade Federal do Pará (UFPA), que transformaram o local em parque-museu. A primeira etapa da revitalização foi entregue em janeiro de 2023, trazendo novos visitantes e um movimento inesperado para a área central da cidade.
Mas, pouco tempo depois da reabertura parcial, o local foi novamente fechado para o início da segunda etapa da restauração. Desde então, o espaço segue cercado, com obras em andamento e sem previsão oficial clara de conclusão. A responsável pelo projeto, Rebeca Ribeiro, arquiteta da Secult e diretora do Departamento de Patrimônio Histórico, explica que a restauração é complexa e cuidadosa, especialmente porque envolve jazigos de famílias tradicionais da cidade. Alguns mausoléus, segundo ela, levam até cinco meses para serem completamente restaurados devido à delicadeza do trabalho e ao estado de degradação das estruturas.
Na placa fixada na frente da obra, o valor total do investimento chama a atenção: R$ 7 milhões estão sendo aplicados na restauração do parque. Mesmo com esse montante, o espaço permanece fechado e sem previsão clara de reabertura, embora a Secult informe que a segunda etapa das obras deve ser concluída até setembro deste ano.

Enquanto isso, comerciantes como a dona Roberta, de 47 anos, sentem no bolso os efeitos do fechamento. Ela conta que, no período em que o parque estava aberto, mesmo com o estranhamento inicial por ser um cemitério, o movimento no comércio local cresceu. “Estava tão legal quando abriu. A gente via as famílias passeando, as pessoas comprando nas bancas. Depois que fecharam de novo, tudo diminuiu e eu até precisei tirar a banca daqui”, lamenta.
Para os pedestres que passam diariamente pela Serzedelo Corrêa, a situação também gera frustração. Moacir Santos, de 30 anos, que trabalha como promotor de vendas, relata: “Toda vez que eu passo por aqui, as portas estão fechadas. Não adianta estar bonito por dentro se ninguém pode aproveitar. É um desperdício.” Ele ainda questiona se pela parte de trás o acesso continua da mesma forma, mas afirma que na frente, a entrada segue trancada.



A equipe do portal O Fato esteve no local e constatou que as obras seguem em andamento. Operários atuam na recuperação de túmulos e mausoléus, e há movimentação diária de equipes técnicas. Segundo a Secult, a previsão é que a segunda etapa da obra seja concluída em setembro, embora ainda sem uma data exata para a reabertura ao público.
O Parque Cemitério Soledade carrega uma memória importante da cidade. Além de abrigar vítimas de epidemias que marcaram o século XIX, o espaço reúne estilos arquitetônicos como o neoclássico, o gótico e o barroco, compondo um acervo único no estado. A proposta da revitalização é que o local funcione não apenas como ponto turístico, mas também como espaço de educação patrimonial, cultura e lazer, integrando a população à sua história.