janeiro 17, 2025
spot_img
InícioRoraimaCompra de votos em comunidades indígenas de Pacaraima vira destaque nacional

Compra de votos em comunidades indígenas de Pacaraima vira destaque nacional

Publicado em

Uma reportagem do jornal Estadão, publicada nesta quarta-feira, 2, denuncia a prática de compra de votos em Pacaraima, em especial na Terra Indígena Raposa Serra do Sol. Apesar da crise humanitária que afeta a cidade, com milhares de venezuelanos cruzando a fronteira, os imigrantes não têm direito a voto, e a disputa eleitoral se concentra nas comunidades indígenas, onde vive mais da metade dos 20 mil habitantes.

Pacaraima está situada integralmente nas terras indígenas São Marcos e Raposa Serra do Sol, que abrigam cerca de 70 comunidades, como os macuxis, taurepangs, wapichanas e patamonas.

Nessas áreas, os principais candidatos – Hermógenes do Padre Cícero (Podemos), Walderi D’ávila (PP) e Dila Santos (PDT) – têm focado suas campanhas, com promessas de melhorias em troca de votos. O Estadão revela que a compra de votos se tornou uma prática comum nessas regiões, muitas vezes com a troca de materiais de construção, como sacos de cimento, por apoio político.

No Contão, maior comunidade indígena de Pacaraima, Hermógenes foi flagrado oferecendo sacos de cimento a um morador em troca dos votos de sua família. A denúncia é confirmada por lideranças locais, como Romisson Fidelis, tuxaua da comunidade, que critica abertamente a prática.

“Os políticos estão comprando votos aqui. Isso prejudica o povo, porque quando formos cobrar melhorias, eles vão dizer que já nos ajudaram”, lamenta o líder indígena.

Além das ofertas de materiais, pedidos por ajuda financeira também são frequentes. Segundo a reportagem, uma eleitora solicitou ao candidato Hermógenes apoio financeiro para custear exames médicos, ao que o candidato prometeu tentar providenciar ao menos cem reais. Essas trocas, embora explícitas, não são formalmente denunciadas à Justiça Eleitoral, que carece de fiscalização efetiva na região.

A precariedade das comunidades indígenas é outro fator que potencializa o assistencialismo. Estradas em péssimo estado, escolas distantes e atendimento médico irregular fazem parte do cotidiano, e os políticos aproveitam essas carências para angariar votos. Muitos vilarejos só são acessíveis após horas de caminhada ou por estradas de terra quase intransitáveis, tornando o deslocamento dos candidatos uma tarefa árdua, mas estrategicamente essencial.

Outro ponto sensível é a influência de figuras políticas regionais. O apoio do senador Hiran Gonçalves (PP-RR) a Hermógenes tem causado desconforto entre eleitores indígenas. Gonçalves é autor da PEC 48, que busca incorporar a tese do marco temporal na Constituição, proposta que contraria os interesses das populações indígenas e tem gerado protestos. Apesar disso, Hermógenes tenta minimizar o impacto, afirmando que sua candidatura é em prol dos interesses das comunidades locais.

Mesmo sem direito a voto, a chegada contínua de venezuelanos afeta o cenário local. O Estadão destaca que cerca de 500 imigrantes cruzam a fronteira diariamente, muitos em busca de melhores condições de vida. A maioria deles é redistribuída para Boa Vista e outras cidades, mas uma parcela permanece em Pacaraima, onde se torna mão de obra barata para trabalhos que os brasileiros evitam.

“O problema da imigração é grande, mas o que está decidindo essa eleição são os indígenas. Eles estão sendo alvos das campanhas de compra de votos”, afirmou Dila Santos (PDT), candidata à prefeitura e atual presidente da Câmara Municipal.

Crise econômica e sede do município carente de infraestrutura e serviços públicos

Pacaraima também enfrenta desafios econômicos e estruturais. Com a maior parte da população dependente do Bolsa Família e uma economia baseada na informalidade, as demandas por saúde, educação e infraestrutura são constantes. Em comunidades como São Francisco, que fica a 18 km de uma escola, a espera por melhorias é longa. Muitas vezes, os próprios moradores constroem estruturas básicas com a ajuda de candidatos, reforçando o ciclo de assistencialismo.

A coleta de lixo é outro problema grave. O descarte de resíduos nas imediações da comunidade Ouro Preto gerou protestos, com os indígenas bloqueando o acesso dos caminhões de lixo, devido à contaminação das nascentes de água. O problema foi parcialmente resolvido com o envio do lixo para um município vizinho, mas os transtornos continuam a afetar o cotidiano da cidade.

Foto: Agência Brasil

spot_img

Últimos Artigos

Em Boa Vista, matrículas do Ensino Fundamental para 3° ao 5° anos iniciam neste sábado, 18

A Prefeitura de Boa Vista inicia neste sábado, 18, o prazo para pedidos de...

Ministério Público investiga desvio de verbas de projeto social em Rorainópolis

O Ministério Público do Estado de Roraima determinou a instauração de um Procedimento Preparatório...

Publicada MP que proíbe cobrança diferenciada por transações com Pix

O governo federal publicou, na edição desta quinta-feira (16), no Diário Oficial da União, medida provisória...

STF declara inconstitucionais regras do Pará sobre ICMS no setor de mineração

O Supremo Tribunal Federal (STF) julgou inconstitucionais partes de três normas do estado do...

Mais como este

Em Boa Vista, matrículas do Ensino Fundamental para 3° ao 5° anos iniciam neste sábado, 18

A Prefeitura de Boa Vista inicia neste sábado, 18, o prazo para pedidos de...

Ministério Público investiga desvio de verbas de projeto social em Rorainópolis

O Ministério Público do Estado de Roraima determinou a instauração de um Procedimento Preparatório...

Publicada MP que proíbe cobrança diferenciada por transações com Pix

O governo federal publicou, na edição desta quinta-feira (16), no Diário Oficial da União, medida provisória...