A Polícia Civil de Roraima prendeu, nas primeiras horas desta terça-feira (16), o mototaxista Andreson Bezerra de Carvalho, de 46 anos, apontado como autor do assassinato de Ana Paula Oliveira da Silva, de 23 anos, encontrada morta às margens do rio Cauamé, em Boa Vista, no dia 7 de novembro. O corpo estava nu e preso a galhadas. O caso, inicialmente tratado como afogamento, foi reclassificado como feminicídio após o avanço das investigações.

A prisão ocorreu durante a Operação Arcanum, deflagrada após a Justiça expedir mandado de prisão preventiva e autorizar buscas em endereços ligados ao investigado. Andreson foi localizado em via pública, no bairro Sílvio Leite, após diligências em diversos bairros da capital.

Segundo a Polícia Civil, o suspeito conheceu a vítima em um bar e, em seguida, os dois seguiram juntos na motocicleta dele até a região do rio Cauamé. Todo o trajeto foi registrado por câmeras e radares do sistema de monitoramento urbano. Cerca de uma hora depois, os registros mostram o investigado retornando sozinho, carregando o capacete que pertencia à jovem. O corpo de Ana Paula foi encontrado no dia seguinte.

Durante as diligências na área próxima ao rio, equipes policiais localizaram roupas e pertences da vítima, o que reforçou a tese de que o crime ocorreu nas proximidades da margem. A causa da morte foi confirmada como asfixia por afogamento, inserida em um contexto de violência. O corpo foi removido no dia 7 de novembro, mas a identificação oficial só ocorreu no dia 12.

O delegado da Delegacia Geral de Homicídios (DGH), Carlos Henrique, afirmou que o caso representa uma das principais reviravoltas investigativas do ano.

“O que inicialmente aparentava ser uma morte por afogamento passou a ser tratado com extrema cautela pela equipe. O trabalho integrado, a análise de imagens, o monitoramento de deslocamentos, as oitivas e a leitura detalhada da cena do crime foram fundamentais para demonstrar que se tratava de um feminicídio. A Polícia Civil não trabalha com suposições, trabalha com fatos, técnica e persistência”.

O delegado destacou ainda que a vítima apresentava lesões graves na face e no crânio e que o contexto social de Ana Paula foi decisivo para a compreensão do crime.

“Trata-se de fato de um feminicídio, onde foi constatado que a vítima possuía lesões graves na face, no crânio. Era uma vítima que tinha um perfil de vulnerabilidade, ela estava inserida em um contexto de vulnerabilidade social, econômica, psicológica, e tudo leva a crer que isso foi determinante para essa atuação, vamos assim dizer, do infrator. Hoje a Polícia Civil dá um passo importante na elucidação do caso, já com o principal suspeito custodiado. As investigações prosseguem com algumas diligências ainda pendentes, mas tudo leva a crer que o caso está sendo solucionado”.

A delegada titular da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM), Clarissa Pinheiro, afirmou que o avanço das investigações ocorreu a partir de uma análise mais sensível do histórico da vítima e do ambiente em que ela vivia.

“Desde o início, a investigação buscou compreender quem era Ana Paula e o ambiente em que ela estava inserida. Com o avanço das apurações, ficou evidente que ela vivia em situação de vulnerabilidade social. O que parecia um afogamento acidental revelou-se um crime de extrema gravidade, caracterizado como feminicídio”.

A Polícia Civil também confirmou que Andreson Bezerra de Carvalho possui registros de boletins de ocorrência feitos pela ex-mulher, relacionados a ameaças de morte no contexto de violência doméstica.

As investigações apontaram ainda um perfil contraditório do suspeito. Nas redes sociais, ele se apresenta como pastor e líder religioso, participava de cultos, realizava pregações, cantava e conduzia batismos, inclusive na região do rio Cauamé, local que conhecia profundamente. Paralelamente, segundo os investigadores, frequentava ambientes de consumo de bebida alcoólica, prostituição e contextos de extrema vulnerabilidade social, mantendo uma conduta incompatível com a imagem que projetava publicamente.

Após a prisão, Andreson foi levado à sede da Delegacia Geral de Homicídios, onde foi qualificado e interrogado. Ele será apresentado à Audiência de Custódia nesta quarta-feira (17). As investigações seguem para o completo esclarecimento do crime.

Operação Arcanum

O nome da operação tem origem no latim arcanus, que significa “segredo” ou “mistério profundo”, em referência ao trabalho investigativo que revelou a verdadeira natureza de uma morte inicialmente tratada como acidental.

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