Uma semana após alguns parlamentares se posicionarem contrários à uma resolução, aprovada pelo Conselho Universitário da Universidade Estadual de Roraima (UERR), que autoriza a instituição a adotar o resultado do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) como forma de ingresso na universidade, o reitor Cláudio Travasso Delicato foi à Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR) nesta segunda-feira, 20, e apresentou alguns argumentos sobre a decisão.
O encontro do reitor ocorreu com representantes das comissões de Educação, Desportos e Lazer, e de Administração, Serviços Públicos e Previdência do Poder Legislativo. O objetivo central da reunião foi a controversa Resolução nº 34/2024 do Conselho Universitário, que implementa o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) como uma das formas de ingresso para os cursos de graduação da instituição.
O reitor Cláudio Travasso Delicato apresentou aos parlamentares os argumentos que embasaram a decisão do Conselho Universitário, destacando que a adesão à nota do Enem simplificaria o processo de seleção, reduzindo custos administrativos e burocráticos de um vestibular unificado para cursos com demandas diferentes.
“De 2017 até o meio do ano passado, só tínhamos uma forma de ingresso, o vestibular unificado para os 25 cursos. E a gente sabe que as demandas dos cursos são muito diferentes. Temos medicina com 60 candidatos por vaga, direito com média de 18 candidatos, e enfermagem com números próximos aos de direito. Temos também educação física, único no Estado, que é muito concorrido. Contabilidade, administração e serviço social têm uma média de 4 a 5 candidatos por vaga”, explicou Delicato.
“Geralmente, temos 6 mil inscritos, e 50% em média não pagam a inscrição. Desses, 20% não comparecem para fazer a prova, 20% dos que fazem não se classificam, e, dos classificados, de 10% a 20% não se matriculam. É um processo longo, caro, ineficiente e que não se paga. Esses são os motivos das alterações”, complementou o reitor.
Delicato salientou que, para enfrentar a evasão e o baixo aproveitamento dos cursos, o vestibular unificado deixou de ser a única forma de ingresso a partir de uma alteração no regimento da universidade realizada em 2023. Segundo ele, a mudança atendeu a uma reivindicação antiga do conselho e mitiga um dos gargalos do preenchimento de vagas no interior, a exemplo da seleção simplificada no polo de Rorainópolis.
“Com essa alteração no ano passado, a figura do vestibular unificado foi substituída pela alternativa de se fazer seleções diferenciadas, que são as formas de ingresso. O vestibular é uma delas, e nosso regimento não especifica uma forma de ingresso única. Em Rorainópolis, temos uma demanda de quatro cursos, e por causa das características locais, foi feita uma solicitação para um ingresso diferenciado, um vestibular simplificado, e assim foi feito. O vestibular do ano passado foi unificado, mas as vagas remanescentes em Rorainópolis puderam ser ofertadas com base em uma seleção simplificada, por meio da análise de histórico. Tivemos três mil inscritos e conseguimos preencher 400 vagas que seriam perdidas”, esclareceu.
Audiência pública
Para ampliar o debate sobre as formas de ingresso e os desafios da Universidade Estadual de Roraima, o Poder Legislativo realizará uma audiência no Plenário Deputada Noêmia Bastos Amazonas, na quarta-feira, 22, com o tema “A UERR que Queremos”.
A audiência contará com a participação de representantes da comunidade acadêmica, da sociedade civil, de órgãos públicos e de entidades estudantis.
Pressão
Durante sessão na sessão na semana passada, o deputado estadual Marcinho Belota (PRTB) contestou esse entendimento, tendo em vista a falta de equiparação no ensino entre estudantes de Roraima e de outros estados. Na tribuna, Belota chegou a dizer que que a medida prejudicaria alunos que se dedicam e investem nos estudos devido a essa diferença social e cultural.
Diante do caso, o parlamentar apresentou o Projeto de Decreto Legislativo nº035 de 2024, que pede a sustação, ou seja, a suspensão dos efeitos dessa resolução do Conselho Universitário.
“Teremos uma concorrência desigual entre os que vêm de fora e os daqui de Roraima, porque eles têm acesso ao melhor material de estudo. Além disso, a maioria das pessoas que vêm de fora para se formar aqui, volta para o seu estado de origem e vai exercer a profissão lá, criando um encarecimento nos nossos serviços e enfraquecendo nosso mercado de trabalho. É necessário urgentemente que o reitor da instituição possa tratar com os deputados sobre esse tema”, disse na ocasião.
Na ocasião, o deputado Lucas Souza (PL) também destacou a importância de se discutir a medida e pediu cautela em sustar a resolução antes de uma debate mais aprofundado sobre o caso.
“Nós precisamos continuar a dar vida para a universidade. Existem cursos que o vestibular unificado estadual não preenche as vagas. Mas peço cautela para sustar um ato do conselho universitário, que é como se fosse a Assembleia Legislativa da universidade. Acredito que nosso papel seja dialogar e procurar uma solução”, ressaltou na ocasião.
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