O ex-senador Telmário Mota, preso desde 31 de outubro de 2023 sob acusação de ser o mandante do assassinato da mãe de sua filha, divulgou uma carta na qual denuncia as condições de detenção na Cadeia Pública de Boa Vista e os impactos que essas circunstâncias têm causado à sua saúde.
No documento, Mota descreve situações enfrentadas durante o Natal de 2023, quando afirma ter sido alvo de atos degradantes por outros detentos. “Passei a noite do dia 24 limpando urina e fezes jogados na minha cela e no meu próprio corpo por outros presos. Neste último Natal, a situação piorou: um preso insano tocou fogo na sua roupa e no colchão e jogou no corredor da ala 09, onde fica a minha cela, colocando em risco a minha vida e a de todos os outros presos da ala”, escreveu.
Ele relatou que, devido ao incêndio, foi retirado da cela com dificuldades para respirar, junto com outro detento, pelo trabalho de dois policiais penais. “A eles, minha gratidão”, acrescentou. Após o incidente, Mota afirmou que todos os colchões foram retirados da ala, obrigando os presos a dormirem no chão. “Resumo da ópera: a gestão da unidade prisional retirou todos os colchões, e voltamos a dormir no chão, os justos pagando pelos pecadores”, lamentou Mota na carta.
O ex-senador também relatou que sua saúde está em estado crítico, agravado pelas condições de detenção. “A minha saúde já estava abalada por várias patologias. Com a inalação da fumaça, o meu quadro piorou. A minha pressão, antes controlada em 12/08, após três dias do episódio, encontrava-se na casa de 19/15 e segue sem estabilização. Os tremores que antes atacavam minha mão esquerda hoje tomam conta de todo o lado esquerdo do meu corpo”, pontuou.
Ele também afirmou que a falta de fisioterapia tem causado problemas adicionais após uma cirurgia de prótese total no joelho. “Estou ficando com minha perna direita deficiente por falta de fisioterapia. Não me foi autorizado realizar o tratamento necessário”, disse.
Na carta, Mota ainda denuncia que foi retirado do Hospital Unimed sem alta médica e levado para o Hospital Geral de Roraima (HGR), onde ficou trancado em um quarto com vigilância policial. “Fui retirado na marra do Hospital Unimed, sem alta hospitalar e sem recomendação médica. Colocaram-me trancado em um quarto no HGR, com um policial dentro e algemado na cama. De lá, vim para a cadeia pública”, afirmou.
O ex-senador mencionou que passou por uma perícia médica a pedido do Ministério Público e da Justiça, que constatou diversas patologias, incluindo hipertensão arterial, insuficiência cardíaca, transtorno de ansiedade generalizada, depressão grave com alucinações e doença neurodegenerativa.
O Ministério Público do Estado de Roraima (MPRR) solicitou a realização de uma perícia psiquiátrica para embasar tecnicamente o pedido de prisão domiciliar feito por Mota. Em nota, o MPRR informou que aguarda a conclusão da perícia para emitir parecer sobre o caso. Até o momento, o pedido de prisão domiciliar foi negado pela Justiça, com base em análises preliminares do Núcleo de Saúde do órgão.
A defesa de Telmário Mota argumenta que as condições de saúde justificam a concessão de prisão domiciliar. Já o Ministério Público destaca que qualquer decisão dependerá da avaliação psiquiátrica, que segue em andamento.
Confira a carta:
NATAL COM FEZES URINA E FOGO
No natal do ano de 2023, passei a noite do dia 24 limpando urina e fezes jogados na minha cela e no meu próprio corpo por outros presos. Neste último natal a situação piorou, um preso insano tocou fogo na sua roupa e no colchão e jogou no corredor da ala 09, onde fica a minha cela, colocando em risco a minha vida e de todos os outros presos da ala. Eu e o produtor rural Paulo Rodrigues Teixeira, sofremos de problemas cardíacos e outras patologias, fomos retirados da cela já com dificuldades de respirar, por dois bravos policiais penais, que enfrentaram fogo e fumaça para salvar nossas vidas, a Eles minha gratidão.
Resumo da ópera: A gestão da unidade prisional retirou todos os colchões e voltamos a dormir no chão, os justos pagando pelos pecadores.
Minha saúde:
A minha saúde já estava abalada por várias patologias, com a inalação da fumaça o meu quadro piorou, a minha pressão antes controlada em 12/08, após 03 dias do episódio, encontrava-se na casa de 19/15 e segue sem estabilização. As alucinações tem me visitado com mais frequência, os tremores que antes atacavam minha mão esquerda, hoje tomam conta de toda a extensão do lado esquerdo do meu corpo, tenho a impressão que o Mal de Parkinson esteja avançado sobre mim.
Estou ficando com minha perna direita deficiente por falta de fisioterapia, pois fiz uma cirurgia de prótese total de joelho e não me foi autorizado a fazer a fisioterapia necessária. Fui retirado na marra do Hospital UNIMED, sem alta hospitalar e sem recomendação médica. Colocaram-me trancado em um quarto no HGR, com um policial dentro e algemado na cama, de lá, vim para a cadeia pública, tanto o HGR quanto o sistema prisional não dispõem de fisioterapia.
Recentemente passei por uma perícia médica, feita por uma perita oficial, a requerimento da própria justiça e do Ministério Público. Ficou constatado, dentre as várias patologias, a hipertensão arterial, gastrite, insuficiência cardíaca, apneia do sono, transtorno de ansiedade generalizada, episódio depressivo grave com sintomas psicóticos por alucinações, além de doença neurodegenerativa, etc. Em decorrência de todos esses achados na perícia médica, foi recomendado pela perita médica minha prisão domiciliar para tratamento médico, porém, o ministério público e o judiciário não acataram a recomendação médica.
Tal negativa, além de abusiva e violenta, põe em risco minha integridade física e a minha própria vida, o que significa dizer que, a partir de agora, tanto o Ministério Público, quanto o Judiciário assumiram pra si a responsabilidade pela minha vida. É como costumo dizer: É fácil julgar quando a dor não é sua.
Como vocês podem ver, a justiça e o Ministério Público colocaram a minha prisão política acima do meu direito a saúde e a vida. Por fim, quero fazer uma ressalva, quem lembra da acusação que me fizeram de ter agredido uma moça? Pois bem, após quase 10 anos sendo massacrado pela mídia, usado insistentemente e covardemente por meus adversários políticos, a justiça me absolveu dessa infeliz e descabida acusação. A injustiça pode dar seus passos, mas no final tropeçará na verdade.
Será que vou ter que passar mais 10 anos para ter que provar minha inocência desse crime que estão me acusando? A depender do tratamento que estão me dando na cadeia, não sei se viverei o suficiente para provar minha inocência. Liberdade é pouco, o que eu desejo é justiça. Enquanto posso falar, mesmo que por meio de carta, reafirmo, não matei, nem sei quem matou essa senhora! E para aqueles que tem o habito de julgar os outros, lembra que hoje sou eu, amanhã poderá ser você ou um dos seus.
Tenho fome e sede de justiça!
Boa Vista -RR, 15 de janeiro de 2025.
Telmário Mota de Oliveira Ex Senador da República (preso)