O empresário Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, recusou-se a responder às perguntas do relator da CPMI do INSS, deputado Alfredo Gaspar (União-AL), durante depoimento prestado nesta quinta-feira (25). Apontado pela Polícia Federal como lobista e operador financeiro de um esquema de desvio de recursos de aposentadorias, Antunes alegou que o parlamentar não teria isenção para conduzir a investigação.
“Não responderei às perguntas elaboradas pelo relator. Segundo meus advogados, Sua Excelência disse, por mais de uma vez, que sou ladrão do dinheiro de aposentados, sem me dar a chance de defesa. O relator já me julgou e condenou sem sequer me ouvir. Tal conduta revela a quebra da imparcialidade que se espera de um agente público responsável pela apuração de eventual infração penal”, afirmou o empresário.
Apesar da recusa, Gaspar fez mais de 150 perguntas em cerca de 50 minutos. Questionou quais parlamentares, ministros e servidores públicos o depoente teria visitado, quando a estrutura criminosa foi montada na Previdência e se o empresário contou com aval de autoridades “para meter a mão no dinheiro de aposentados”.
O relator apresentou ainda uma foto em que Antunes aparece ao lado de diretores do INSS e do atual ministro da Previdência, Wolney Queiroz, então secretário-executivo da pasta em janeiro de 2023.
“Eu fico imaginando o senhor distribuindo brindes de milhões de reais a funcionários corruptos da Previdência Social. Fico me perguntando quanto essa turma recebeu do senhor, do dinheiro roubado dos aposentados e pensionistas”, disse Gaspar.
O deputado também perguntou se o empresário teve acesso prévio à operação “Sem Desconto”, da Polícia Federal, que revelou o esquema, e sobre o “crescimento patrimonial espetacular” registrado entre abril e junho de 2004. Antunes, no entanto, permaneceu em silêncio.
Gaspar chamou o empresário de “quadrilheiro” e o classificou como “autor do maior roubo aos aposentados e pensionistas da história do Brasil”.
“Quantas vezes o senhor confiou nos padrinhos poderosos, pensando que a impunidade ia ser a marca da sua vida? Hoje, o senhor está arrogante e prepotente. Mas em breve o senhor enfrentará o sistema prisional. O senhor hoje é um arquivo vivo, que, para alguns, vale muito mais morto do que vivo. Engana-se pensando que está protegido. Não vai tardar o dia em que o senhor estará numa cela, e seus amigos vão lhe tratar como uma doença contagiosa e infecciosa”, declarou o relator.
Investigado e preso
De acordo com a Polícia Federal, Antunes teria movimentado R$ 24,5 milhões em apenas cinco meses e pago propina a servidores graduados do INSS para facilitar descontos fraudulentos em aposentadorias. Em uma das transações, teria repassado R$ 7,5 milhões a empresas de Thaisa Hoffmann Jonasson, esposa do ex-procurador do órgão Virgílio Ribeiro de Oliveira Filho.
O empresário está preso preventivamente desde 12 de setembro, mas obteve habeas corpus do ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal (STF), que o desobrigou de prestar o compromisso legal de dizer a verdade.
Defesa e pronunciamento
Antes de responder (ou se recusar a responder) às perguntas, o depoente fez um breve pronunciamento.
“Mentira, inveja e calúnia”, disse o empresário ao classificar as acusações. Ele afirmou que a denúncia partiu de um ex-sócio “insatisfeito após reiteradas tentativas de extorsão frustradas” e criticou sua prisão preventiva, que considerou “uma medida extremamente grave, baseada em premissa absolutamente equivocada”.
Antunes admitiu que uma de suas empresas prestou serviços a associações que realizavam descontos em aposentadorias, mas negou envolvimento no esquema.
“A minha empresa sempre prestou serviços a associações tendo como destinatário final o aposentado associado, mas sem qualquer ingerência ou responsabilidade sobre os descontos incidentes em seus benefícios previdenciários. (…) Caso algum aposentado tenha sofrido descontos indevidos, a responsabilidade recai sobre as associações que promoveram a inclusão dessas pessoas em seus quadros associativos e sem a devida anuência — jamais sobre a minha empresa”, afirmou.
Tensão na comissão
A reunião chegou a ser suspensa após discussão entre parlamentares e o advogado do empresário, Cleber Lopes. O criminalista protestou depois que o relator disse que ele era “pago com dinheiro roubado do povo brasileiro”.
Na retomada, o presidente da CPMI, senador Carlos Viana (Podemos-MG), pediu que “todos se manifestassem de forma ordeira, urbana e em respeito ao depoente”.