O Sebrae Roraima encerrou, nesta sexta-feira (28), o ciclo 2025 do Sebrae Delas com uma noite dedicada ao empreendedorismo feminino no prédio Airton Dias. A programação destacou histórias de superação, impacto social e inovação, tendo como convidada principal a paraibana Nevinha Silva, criadora do primeiro shopping rural do mundo. 

Além da palestra, o evento reuniu empresárias atendidas ao longo do ano e celebrou os resultados do projeto, que alcançou recordes de participação e visibilidade em Roraima. A proposta do encontro foi mostrar, de forma prática, como iniciativas lideradas por mulheres têm impulsionado negócios, fortalecido comunidades e criado novas referências no ecossistema empreendedor brasileiro. 

Para o superintendente do Sebrae Roraima, Emerson Baú, a trajetória de Nevinha sintetiza o poder de transformação que o empreendedorismo gera quando ultrapassa objetivos individuais.

Segundo ele, existem diversas formas de empreender. “O empreendedorismo tem várias vertentes. Existe o empreendedor que monta o negócio para ganhar dinheiro e ter sucesso. Existe o intraempreendedor, que se torna referência dentro da empresa. E existe o empreendedor social, que vai além do bem-estar próprio e busca o bem-estar coletivo. A dona Nevinha é um caso desse, onde, de um problema, ela conseguiu extrair uma mudança de realidade, não apenas dela, mas da comunidade ao redor”, afirmou.

Uma história que nasceu de R$ 50 e alcançou o mundo

A trajetória apresentada por Nevinha Silva começou em 2013, quando ela e a mãe, ambas mulheres pretas e analfabetas, iniciaram a produção de dois tipos de doce debaixo de um cajueiro, com apenas R$50 emprestados. O que nasceu de uma necessidade pessoal acabou se tornando o embrião do Doces Tambaba e, mais tarde, do primeiro Shopping Rural do mundo.

“Meu sonho era mudar a vida da família. No começo era difícil, muita gente criticava. Mas a minha mãe sempre dizia: ‘Não desista do seu sonho. Um dia o mundo vai conhecer a sua história”, contou.

Com o tempo, o negócio começou a chamar atenção de guias de turismo que passavam pelo litoral sul da Paraíba e indicavam “as duas mulheres que faziam doce debaixo do cajueiro”. A partir dessas recomendações, o ponto passou a ser incluído de forma espontânea nos roteiros locais. Nesse processo, Nevinha também recebeu orientações de um consultor do Sebrae, que ajudou a organizar a produção e a estruturar melhor o negócio. 

Com o crescimento, ela convenceu as irmãs a deixarem seus empregos e construírem juntas um espaço sustentável feito de taipa, reunindo produtos diferentes em pequenas lojas de barro. “Foi daí que surgiu o Shopping Rural. Poderia ser vila, poderia ser outro nome, mas ‘Shopping Rural’ seria de destaque. E hoje é o primeiro do mundo, conhecido nacional e internacionalmente”, disse.

O projeto já foi apresentado em Lisboa e Paris como exemplo de impacto social e economia colaborativa. Para Nevinha, porém, o maior legado está no efeito multiplicador sobre outras mulheres. “Eu quero que surjam muitas Nevinhas. Que não abaixem a cabeça, que não deixem ninguém atrapalhar seus sonhos. Do pouco, a gente constrói o grande”, afirmou.

Resultados expressivos no Delas em 2025

A gestora do Sebrae Delas, Kamyla Brasil, destacou que 2025 foi um dos anos mais produtivos do projeto em Roraima. Ao todo, 89 empresárias foram atendidas diretamente, enquanto centenas participaram de ações indiretas, incluindo consultorias, capacitações e missões técnicas.

Um dos destaques foi o resultado inédito no Prêmio Sebrae Delas – Melhor de Negócios, em que Roraima conquistou o primeiro lugar nacional com o Café Imerú, da empreendedora indígena Ana Siqueira, atendida pelo projeto do trade turístico. “Foi um resultado muito expressivo. Contar histórias como a da Ana e ver esse reconhecimento nacional mostra que estamos no caminho certo”, afirmou Kamyla.

O ano também marcou as primeiras missões empresariais do Delas, levando 24 empreendedoras para vivências em ecossistemas de inovação em São Paulo e Florianópolis. Para Kamyla, a presença de Nevinha no encerramento do ciclo reforça o espírito do projeto. “A Nevinha representa um pouco da história de cada uma de nós. Mulheres, mães, muitas vezes mães solos, donas de casa, acumulando funções. É uma representatividade forte, que inspira e mostra que, quando uma mulher quer, ela constrói uma rede e transforma toda uma comunidade”, destacou.

Sobre 2026, ela adianta que o planejamento já está pronto. “Vamos trazer uma metodologia inédita para Boa Vista, fortalecer ainda mais a rede e ampliar a visibilidade dessas empreendedoras. A ideia é superar tudo o que fizemos em 2025”.

Vidas transformadas pela rede

Entre as participantes, a noite também evidenciou histórias de resistência e reconstrução. A empreendedora Maola Faria, da Lavrado Soluções Ambientais, relatou que o Delas foi decisivo em um momento de fragilidade pessoal, após enfrentar uma gestação de risco, um casamento frustrado e episódios de violência.

Ela se reconectou à própria trajetória após ingressar novamente no projeto. “Eu estava desanimada, sem perspectiva. E quando voltei para o Delas, me reconectei. Tive consultoria, replanejei a rota da empresa, me conectei com outras mulheres. Quando fui para o pódio no prêmio estadual, aquilo foi uma mega realização”, contou.

Hoje, Maola desenvolve geotintas sustentáveis dentro de um edital de inovação e destaca que o Delas a ajudou a recuperar energia e propósito. “A força da conexão de mulheres traz crescimento para todas. Não é só ter CNPJ. É transformar a própria vida e a de outras mulheres”, concluiu.