Após 30 dias de mobilização em frente à sede do Distrito Sanitário Especial Indígena Leste de Roraima (DSEI Leste/RR), representantes de povos indígenas encerraram o ato nesta sexta-feira, 27. O grupo cobrava explicações do Ministério da Saúde sobre a ausência de nomeação oficial de Letícia Monteiro para a coordenação do órgão.
A indicação de Letícia foi feita pelo Movimento Indígena de Roraima durante o V Acampamento Terra Livre Roraima, e chegou a constar em uma portaria divulgada no dia 16 de maio. No entanto, a nomeação não foi publicada no Diário Oficial da União. Em ato simbólico, ela chegou a ser empossada pelo movimento, mas a nomeação oficial não foi efetivada.
No lugar de Letícia, o Ministério da Saúde nomeou Lindinalva Marques para o cargo. O grupo mobilizado questionou a decisão e apontou falta de resposta por parte da pasta durante o período de ocupação.
Durante o ato, participaram lideranças tradicionais, jovens e representantes de comunidades das regiões de Amajari, Alto Cauamé, Baixo Cotingo, Murupu, Sumuru, Raposa, Serras, Serra da Lua, Tabaio, Waiwai e Alto Miang.
As lideranças afirmam que houve interferência política na nomeação da atual coordenadora. Segundo os manifestantes, Lindinalva Marques tem apoio de integrantes do partido Republicanos. O grupo também questionou a presença da coordenadora em comunidades indígenas ao lado do deputado federal Gabriel Mota, crítico de pautas como a demarcação de terras e defensor da tese do Marco Temporal.
“Estamos aqui por nossos direitos, pela saúde indígena e pela decisão coletiva que nos foi negada. Não aceitamos que o DSEI seja usado como jogada política, pois é o que está acontecendo escancaradamente. Alerto que 2026 é período de eleição”, declarou uma das lideranças presentes.
Os participantes do ato alegam que a decisão do Governo Federal foi tomada sem consulta prévia às comunidades, o que contraria a Convenção nº 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), a Constituição Federal e as diretrizes da Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas.
A mobilização incluiu rodas de conversa, oficinas, rituais e atividades culturais, além de reuniões de articulação política. Segundo o coordenador regional do Alto Miang, Ulisses Taurepang, o encerramento não representa um recuo.
“Seguiremos atentos e preparados para as próximas etapas. Voltar ao território não é recuar, e sim reorganizar-nos, nos preparando para as próximas etapas”, afirmou.