Saúde, moradia, mobilidade urbana e uma cidade para todos foram assuntos debatidos em entrevista ao vivo da pré-candidata a vereadora de Manaus, nesta quinta-feira (26/07) ao “Pod Eleições 2024”, apresentado pelo jornalista Francisco Araújo em parceria como o portal de notícias Amazoniapress. A entrevistada, Anne Moura, é secretária Nacional de Mulheres do PT, descendente do povo Mura e nascida na periferia de Manaus, no bairro Coroado.
Em resposta à pergunta se teria dificuldade para se eleger vereadora na capital do Amazonas por ser do campo da esquerda, Anne Moura rechaçou a tese de que Manaus é uma cidade bolsonarista e afirmou que o eleitor manauara precisa ser conquistado.
“Não acredito que Manaus é bolsonarista. Manaus precisa ser disputada, precisa de informação. Eu ando em qualquer lugar. As pessoas têm refletido sobre quem ajuda de fato o nosso estado. Tem a Zona Franca, que foi ajudada por Lula. Se a gente consegue ter os meios de comunicação fazendo referência que tudo isso que está acontecendo, Bolsa Família, Minha Casa, Minha Vida, é pelo governo Lula, vamos desconstruindo algumas coisas”, afirmou.
A pré-candidata também defendeu o diálogo respeitoso entre opositores políticos. “Eu não acho que a política precisa ser tudo ou nada, eu sou do diálogo. A intolerância e a violência não fazem parte do processo democrático. Respeito quem faz oposição com qualidade, não tenho problema com divergências. A gente vai debater, mas dentro da política”, disse.
Segundo Anne Moura, a Câmara Municipal precisa ser reformulada. A população merece parlamentares verdadeiramente dedicados a fiscalizar e não apenas em votar a favor ou não da base governista. “Tem muita ausência da finalidade dos vereadores. Eles têm medo de sair do gabinete e conversar com o povo, fazer prestação de contas. Estão muito mais preocupados em dizer de que lado eles estão, do que realmente fiscalizar o dinheiro do povo”.
Relembrando casos recentes que ganharam projeção na CMM como um vereador defendendo apenas bolacha e suco para merenda escolar, outros errando o voto no plenário e o feriado prolongado do Dia do Trabalhador que os próprios vereadores estabeleceram para si, Anne questiona: “É esse tipo de vereador que Manaus precisa?”
Uma cidade para todos
Sobre a pergunta de quais eram as principais demandas do povo nas ruas, Anne Moura lembrou das regiões periféricas da cidade que são esquecidas pelo poder público, onde há falta de saneamento básico, creches e moradias dignas para a população. “A gente vive numa cidade que tem várias cidades. Num certo lugar tem tudo, infraestrutura, transporte coletivo, saúde, escola e até creche, e em outras partes é como se as pessoas tivessem numa cidade abandonada e esquecida, onde precisam se auto organizar para sobreviver porque não chega absolutamente nada”, disse.
Um exemplo claro disso, segundo a pré-candidata, é a mobilidade urbana. “Na Ponta Negra tem mobilidade urbana, na Zona Leste não tem, na Zona Norte não tem. É uma desigualdade gritante, fazem de conta que não existem. Aí quando começa a chover, vem os deslizamentos, as áreas de risco, um monte de coisa vira mídia. Vão lá, resolvem parcialmente, mas o problema permanece, não tem uma política direcionada. Os vereadores e vereadoras precisam fiscalizar e fazer um equilíbrio do que está sendo gasto pela prefeitura. Por que não está sendo olhado determinadas regiões? Por que para uma certa região tudo funciona e para outras não? Tem que trabalhar para onde mais precisa, não para quem está bem servido”, afirmou Anne Moura.
Descentralizar o sistema de saúde
A pré-candidata também defendeu mudanças nas regras de atendimento das Unidades Básicas de Saúde (UBS), com a extensão dos horários de funcionamento e a descentralização sobre quem tem o direito de acessar o serviço a depender do bairro de origem do cidadão.
“As UBS só funcionam até 17h. Se você trabalha, como faz para ser atendido? Você precisa marcar um exame para o seu filho, em que horário você vai? Quando chega do trabalho, que é geralmente às seis horas, com o transporte público que não funciona, demora até duas horas para chegar, às vezes sete horas da noite. Aí, as pessoas acabam recorrendo aos hospitais de média complexidade, os SPAs. Então superlota, o que as vezes é para tratar uma coisa que poderia ter sido resolvida na UBS. Tinha que funcionar para o horário do trabalhador. Sem falar quando você busca atendimento e não consegue porque você não é de uma determinada área. Não tem sentido isso, é realmente não conhecer Manaus”, explicou Anne Moura.
A dificuldade e a demora para mulheres acessarem exames preventivos e serviços de pré-natal também foram expostos pela pré-candidata como problemas causados pela burocratização do atendimento nas UBSs. “As mulheres simplesmente não conseguem. Se ela tiver com algum princípio de câncer ou qualquer infecção leva dias, meses, para ter o resultado. O preventivo e pré-natal são coisas básicas que deveriam ter na UBS, e não tem”.
A solução, de acordo com Anne Moura, é planejamento. “Se a gente tivesse um trabalho organizado na atenção básica, muitas situações se resolveriam rapidamente. Precisa de um planejamento inclusive olhando a cidade pelo tamanho que é”.
Sobre Anne Moura
Pré-candidata a vereadora de Manaus, Anne Moura é secretária nacional de mulheres do PT e coordenadora do Fórum Nacional de Instâncias de Mulheres de Partidos Políticos. Descendente do povo Mura, ela nasceu e cresceu na periferia de Manaus, no bairro Coroado. Desde a juventude, atua na política. Tornou-se, aos 26 anos, secretária Nacional de Desenvolvimento Econômico mais jovem do PT.
Participou da construção do Plano de Governo Lula 2022 e, no mesmo ano, foi candidata à vice-governadora do Amazonas, junto do candidato ao Governo, Eduardo Braga (MDB).
Lançou o movimento “Nossa Voz Manaus”, que tem como objetivo fortalecer a representatividade feminina e de diversas classes sociais na Câmara Municipal, bem como promover políticas públicas que atendam às reais necessidades da população manauara.