novembro 22, 2024
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Compra de votos em comunidades indígenas de Pacaraima vira destaque nacional

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Uma reportagem do jornal Estadão, publicada nesta quarta-feira, 2, denuncia a prática de compra de votos em Pacaraima, em especial na Terra Indígena Raposa Serra do Sol. Apesar da crise humanitária que afeta a cidade, com milhares de venezuelanos cruzando a fronteira, os imigrantes não têm direito a voto, e a disputa eleitoral se concentra nas comunidades indígenas, onde vive mais da metade dos 20 mil habitantes.

Pacaraima está situada integralmente nas terras indígenas São Marcos e Raposa Serra do Sol, que abrigam cerca de 70 comunidades, como os macuxis, taurepangs, wapichanas e patamonas.

Nessas áreas, os principais candidatos – Hermógenes do Padre Cícero (Podemos), Walderi D’ávila (PP) e Dila Santos (PDT) – têm focado suas campanhas, com promessas de melhorias em troca de votos. O Estadão revela que a compra de votos se tornou uma prática comum nessas regiões, muitas vezes com a troca de materiais de construção, como sacos de cimento, por apoio político.

No Contão, maior comunidade indígena de Pacaraima, Hermógenes foi flagrado oferecendo sacos de cimento a um morador em troca dos votos de sua família. A denúncia é confirmada por lideranças locais, como Romisson Fidelis, tuxaua da comunidade, que critica abertamente a prática.

“Os políticos estão comprando votos aqui. Isso prejudica o povo, porque quando formos cobrar melhorias, eles vão dizer que já nos ajudaram”, lamenta o líder indígena.

Além das ofertas de materiais, pedidos por ajuda financeira também são frequentes. Segundo a reportagem, uma eleitora solicitou ao candidato Hermógenes apoio financeiro para custear exames médicos, ao que o candidato prometeu tentar providenciar ao menos cem reais. Essas trocas, embora explícitas, não são formalmente denunciadas à Justiça Eleitoral, que carece de fiscalização efetiva na região.

A precariedade das comunidades indígenas é outro fator que potencializa o assistencialismo. Estradas em péssimo estado, escolas distantes e atendimento médico irregular fazem parte do cotidiano, e os políticos aproveitam essas carências para angariar votos. Muitos vilarejos só são acessíveis após horas de caminhada ou por estradas de terra quase intransitáveis, tornando o deslocamento dos candidatos uma tarefa árdua, mas estrategicamente essencial.

Outro ponto sensível é a influência de figuras políticas regionais. O apoio do senador Hiran Gonçalves (PP-RR) a Hermógenes tem causado desconforto entre eleitores indígenas. Gonçalves é autor da PEC 48, que busca incorporar a tese do marco temporal na Constituição, proposta que contraria os interesses das populações indígenas e tem gerado protestos. Apesar disso, Hermógenes tenta minimizar o impacto, afirmando que sua candidatura é em prol dos interesses das comunidades locais.

Mesmo sem direito a voto, a chegada contínua de venezuelanos afeta o cenário local. O Estadão destaca que cerca de 500 imigrantes cruzam a fronteira diariamente, muitos em busca de melhores condições de vida. A maioria deles é redistribuída para Boa Vista e outras cidades, mas uma parcela permanece em Pacaraima, onde se torna mão de obra barata para trabalhos que os brasileiros evitam.

“O problema da imigração é grande, mas o que está decidindo essa eleição são os indígenas. Eles estão sendo alvos das campanhas de compra de votos”, afirmou Dila Santos (PDT), candidata à prefeitura e atual presidente da Câmara Municipal.

Crise econômica e sede do município carente de infraestrutura e serviços públicos

Pacaraima também enfrenta desafios econômicos e estruturais. Com a maior parte da população dependente do Bolsa Família e uma economia baseada na informalidade, as demandas por saúde, educação e infraestrutura são constantes. Em comunidades como São Francisco, que fica a 18 km de uma escola, a espera por melhorias é longa. Muitas vezes, os próprios moradores constroem estruturas básicas com a ajuda de candidatos, reforçando o ciclo de assistencialismo.

A coleta de lixo é outro problema grave. O descarte de resíduos nas imediações da comunidade Ouro Preto gerou protestos, com os indígenas bloqueando o acesso dos caminhões de lixo, devido à contaminação das nascentes de água. O problema foi parcialmente resolvido com o envio do lixo para um município vizinho, mas os transtornos continuam a afetar o cotidiano da cidade.

Foto: Agência Brasil

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