A polêmica em torno de uma atração do Mormaço Cultural 2023 foi o “estopim” para a base aliada ao prefeito Arthur Henrique (MDB), que contava com 15 vereadores no início do ano, começar a se “esfacelar”. O clima, que já estava ruim, azedou de vez e vereadores já se organizam para deixar a base aliada e seguir para a oposição ou até aderir uma postura neutra.

As informações são de alguns vereadores da base de Arthur, que procuram O Fato neste fim de semana, para relatar diversas insatisfações que vêm ocorrendo ao longo de diversas semanas  e pode afetar o apoio na campanha de 2024, quando o emedebista deve concorrer.

Desprezo  

Segundo um experiente vereador aliado, nos últimos meses, o prefeito Arthur Henrique não atende mais ligações, dificilmente responde mensagens e evita ao máximo receber a bancada aliada no seu gabinete, na sede da Prefeitura.

“O clima está ruim. Nós não somos mais recebidos, passa dias para responder uma mensagem, isso quando responde. Temos a séria impressão que ele está sendo blindado”, disse.

O parlamentar destacou, ainda, que pautas importantes para a população que já teriam sido decididas em reuniões caem no esquecimento de Arthur Henrique. “Nós não estamos entendendo o que está acontecendo, nós estamos muito chateados e preocupados com a condução desta gestão”, comentou.

Pivô

Outros parlamentares, que entram em contato com O Fato, afirmam que começaram a ser vetados de quaisquer aproximação dias após a posse da atual secretária de Comunicação de Arthur Henrique, a jornalista Ana Florêncio.

“A relação da base com Arthur Henrique era muito boa e ficou visivelmente rachada logo após a secretária (Ana Florêncio) assumir o cargo. Acreditamos que ela é um dos motivos principais do distanciamento do prefeito da base. Não sei se é uma estratégia, mas, se for, é uma das piores estratégias”, lamentou um dos vereadores.

Secretários não atendem 

Além de não terem mais fácil acesso ao prefeito que apoiam, o grupo de vereadores afirma também que não consegue mais falar com secretários municipais para conversar sobre as demandas da população.

“O clima está péssimo. Nós, representantes do povo, não estamos mais conseguindo dialogar com secretários para trabalhar em prol da população. Nossas ligações não são atendidas e nossas mensagens não são lidas. Completo desrespeito”, desabafou.

“Estopim”

Para o grupo de vereadores, a gota d’água foi a contratação do artista Johnny Hooker por R$ 100 mil para show no Mormaço Cultural de Arthur Henrique. Ocorre que internautas resgataram um vídeo polêmico em que a atração nacional afirma, durante uma apresentação no Festival de Inverno de Garanhuns, que Jesus Cristo é “travesti”, “trans” e “bicha”.

Diversos vereadores estão indignados e alguns chegaram até a emitir nota de repúdio. Eles, inclusive, tentando contato com o prefeito desde sexta-feira, 22, para pedir que o prefeito cancele a apresentação do referido artista, mas sequer estão tendo as ligações atendidas ou as mensagens respondidas ou visualizadas.

“Abandono”

Somados todos os problemas em torno do relacionamento com a atual gestão, os vereadores, segundo relatos de todos que procuraram O FATO, estão se reunindo e cogitando abandonar a base aliada e migrar para a oposição.

“Nós já estamos sendo tratados como oposição. Tem até vereador que já decidiu que vai sair, tem colega que disse que vai ficar neutro. A base com o prefeito está completamente rachada”, desabafou um parlamentar.

“Arthur não é a Teresa”

Outro experimentado vereador afirmou que, se os “gurus” de Arthur Henrique continuarem influenciado o afastamento do grupo de aliados, o emedebista pode enfrentar dificuldades de aprovar projetos na Câmara Municipal. O que, segundo eles, é perigoso visto que estamos em ano pré-eleitoral e Arthur Henrique tem pretensão de se reeleger em 2023.

“O Arthur não é a Teresa. Ela sim conseguia administrar com mãos de ferro sem pisar na Câmara e sem receber aliados no gabinete dela. Ela sabe fazer política e contava com as emendas do senador Romero Jucá. O Arthur precisa da gente na Câmara, senão vai ficar complicado”, bradou um dos aliados mais irritados.

Silêncio

A reportagem entrou em contato com a Secretaria de Comunicação da Prefeitura de Boa Vista para questionar sobre o conteúdo abordado pelos parlamentares e conceder espaço, mas não teve a demanda atendida até a publicação da matéria.

Sem nenhuma resposta sequer da Secretaria de Comunicação, a reportagem tenta contato direto com o prefeito. O espaço segue aberto.

Foto: SEMUC