Em retaliação à operação contra o garimpo ilegal realizada pela Polícia Federal (PF) na última semana de dezembro — quando aeronaves e maquinários clandestinos usados na extração de ouro foram destruídos — garimpeiros atearam fogo à Unidade Básica de Saúde do Homoxi, uma das regiões da Terra Indígena (TI) Yanomami, em Roraima, nesta segunda (5).
A denúncia foi feita pela Urihi Associação Yanomami, que pretende acionar o Ministério Público Federal (MPF) para que o governo federal contenha os garimpeiros, que ameaçam tanto os povos tradicionais quanto os profissionais de saúde indígena. A Uhiri recebeu a denúncia na última terça (6), mas segundo os relatos, o ataque ocorreu no dia anterior.
A unidade de saúde do Homoxi já havia sido tomada pelos garimpeiros em setembro do ano passado, paralisando os atendimentos de saúde a cerca de 700 indígenas de cinco comunidades da região. Os garimpeiros também controlam a pista de pouso localizada em frente à unidade, a única disponível para os profissionais de saúde chegarem ao local. Em julho de 2021, um yanomami morreu atropelado por um avião a serviço do garimpo ilegal.
A “epidemia de garimpo” na TI Yanomami é resultado da invasão de milhares de garimpeiros ao longo dos quatro anos do governo Jair Bolsonaro, que defende publicamente o garimpo dentro dos territórios de povos tradicionais. Atualmente, a TI Yanomami abriga cerca de 20 mil indígenas, enquanto o número de garimpeiros atuando ilegalmente no território passa de 30 mil. Só na região do Homoxi existem entre 5 e 7 mil garimpeiros, segundo estimativa da Uhiri.
Para o presidente da associação, Júnior Yanomami, esse ataque dos garimpeiros à unidade de saúde do Homoxi dificulta ainda mais a retomada dos atendimentos à população Yanomami, que sofre com uma epidemia de malária, verminoses e desnutrição e com a falta generalizada de medicamentos. “Os Yanomami já estão há dois anos sem atendimento de saúde, sem remédios, e convivendo com o medo e as ameaças. Tivemos muitos conflitos entre os indígenas e garimpeiros, que controlam quem pousa e quem decola. Eles mandam em tudo por lá”.
Segundo Júnior, a operação da Polícia Federal foi uma ação pontual, mas depois que os agentes deixaram o território, os garimpeiros retornaram e atearam fogo à unidade de saúde, impossibilitando a retomada do prédio para atendimento médico. “Os garimpeiros ficaram com raiva e decidiram queimar a UBS, que é nosso patrimônio. Agora, mesmo que o próximo governo retire os garimpeiros, precisaremos de recurso para construir uma nova unidade de saúde. Estamos preocupados porque, depois que os agentes deixaram o território, os conflitos se acirraram, e eles estão armando todo mundo. Precisamos de apoio”.
Com informações da assessoria
Foto: Divulgação