A crise política em Ananindeua ganhou um novo capítulo após a Operação Hades, deflagrada pelo Ministério Público do Pará (MPPA), que investiga um esquema de fraudes em licitações milionárias na gestão do prefeito Dr. Daniel Santos (PSB). A Câmara Municipal, que conta com 25 vereadores, é agora palco de uma articulação da oposição para a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). Segundo o vereador Flávio Nobre (MDB), sete parlamentares já manifestaram apoio à abertura da investigação. Para que a CPI seja instaurada, são necessários nove votos — um terço do plenário, como estabelece a lei.
“Fizemos uma reunião com os colegas da oposição e conseguimos sete votos favoráveis. Faltam apenas dois para alcançar o quórum necessário. Essa CPI é essencial para dar uma resposta à população, principalmente em relação aos contratos da Secretaria de Obras e da Secretaria de Saúde, que estão diretamente envolvidos nas denúncias”, afirmou o parlamentar.
Ele explicou ainda que o Ministério Público será convidado para uma reunião com os vereadores. “Queremos conduzir tudo com responsabilidade e cautela. Por isso, convocamos o MP para esclarecer detalhes do processo e nos ajudar a entender até onde o Legislativo pode ir na investigação”, completou.
Na base aliada, a reação é de rejeição ao movimento. O vereador Ronald Oliveira (PL), aliado de Daniel Santos, classifica a articulação como uma manobra política. “Não existe essa história de CPI, isso é perseguição pura e simples. O prefeito está sendo atacado porque não se curva a interesses de grupos que dominam a política no estado há décadas. Nós sabemos muito bem de onde está vindo essa pressão”, declarou.

Para o cientista político Dr. André Vasconcelos, professor da Universidade Federal do Pará (UFPA), a CPI, se instalada, pode alterar o cenário político de Ananindeua. “Mesmo que não resulte em punições imediatas, uma CPI tem um peso simbólico muito forte. Ela reforça a pressão institucional sobre a gestão e pode enfraquecer ainda mais a imagem do prefeito, que já está abalada pela operação. Se a base governista insistir em barrar a investigação, o desgaste político tende a aumentar”, analisa.
Contexto: a Operação Hades e a gestão Daniel Santos
Deflagrada no início de agosto, a Operação Hades investiga um esquema que, segundo o MP, desviou valores milionários por meio de fraudes em licitações de diversas secretarias do município. A Justiça determinou o bloqueio de mais de R$ 500 milhões em bens, sendo R$ 140 milhões atribuídos diretamente ao prefeito.
As apurações apontam irregularidades em contratos com empresas de obras e saúde, incluindo a Edifica, que mantém contratos ativos com o município. Além disso, o MP acusa a gestão de envolvimento em lavagem de dinheiro e coação de testemunhas.
Desde a operação, a defesa do prefeito tem reiterado que se trata de uma perseguição política e que Daniel Santos continuará colaborando com as investigações. “Essa ação é movida por interesses políticos e não vai se sustentar quando a verdade vier à tona”, disse o advogado de defesa em nota divulgada após a operação.
A Assessoria de Comunicação (Ascom) da Câmara Municipal também foi solicitada para fornecer informações sobre o tema e intermediar uma entrevista com o presidente da Casa. No entanto, mesmo após um primeiro contato e novas tentativas, não houve retorno até o fechamento desta reportagem.