novembro 19, 2025
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COP das Baixadas leva a discussão sobre o clima para as periferias de Belém

Enquanto líderes mundiais negociam na COP30, coletivos criam "zonas amarelas" para garantir que as vozes das comunidades mais impactadas pelas mudanças do clima sejam ouvidas

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Aproximar o debate das mudanças climáticas da população mais afetada pelo problema, justamente aquela que vive às margens: em favelas, nas comunidades periféricas, nos territórios rurais e nas aldeias, é a proposta da COP das Baixadas, uma articulação de diferentes organizações que busca pautar a questão ambiental mais emergente da atualidade, o aquecimento global, no cotidiano das periferias. Durante a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), em Belém, coletivos da sociedade civil trouxeram à tona uma agenda de atividades sobre questões locais que nem sempre estão no centro do debate global sobre o problema.

“Na COP oficial, eles chegam ao local para falar de clima, mas o mais afetado pelos efeitos do clima não entra nessa conversa. Foi a partir dessa constatação que surgiu a ideia de criar a COP das Baixadas”, explica Guydo Kithara.

Ele e o irmão, Jean Ferreira, o Jean do Gueto, são cofundadores do Gueto Hub, espaço permanente de formação e mobilização sociocultural do bairro Jurunas, uma das maiores comunidades de Belém, às margens do Rio Guamá.

Para incidir no debate mundial sobre o clima durante a Conferência do Clima, a COP das Baixadas promoveu as chamadas yellow zones (zonas amarelas), uma alusão às áreas oficiais da conferência, blue zone (zona azul, onde se reúnem os negociadores oficiais) e a green zone (zona verde, espaço oficial com debates da sociedade civil, empresas e organizações). A escolha do amarelo tem a ver com a complementação da cor da Bandeira Brasileira e um aceno à juventude que protagoniza a gestão dos espaços envolvidos.

Ao todo, são oito espaços ativados em Belém e na região metropolitana, incluindo também Ananindeua, Icoroaci e Castanhal. Diversas programações, como debates, atividades culturais, cursos, oficinas e celebrações vêm sendo realizadas desde o início da COP30, em 10 de novembro, com encerramento previsto também para a data final prevista da conferência da ONU, na próxima sexta-feira (21), quando um ato em defesa da vida e dos territórios será realizado no Jurunas.

“A COP30 é esse evento onde estão sendo tomadas muitas decisões e encaminhamentos, por ser uma conferência, mas o povo também tem se organizado para passar uma mensagem – dizer que esse território já tem solução, já sabe os problemas, já enfrenta os problemas, tá com o mapa do que tem que fazer”, afirma Joyce Cursino, cineasta, atriz comunicadora e gestora do espaço do EcoAmazônias, uma das Yellow Zones coordenada pelo Instituto Negrytar, também no bairro Jurunas.

Nas última semana, o EcoAmazônias promoveu eventos como encontro de parteiras, oficina de bioconstrução para crianças, plantio de horta comunitária, debates e outras ações culturais e artísticas, mobilizando e envolvendo a própria comunidade local.

“A gente está dizendo que a juventude precisa ser ouvida, que a comunidade precisa ser ouvida, que precisa ter participação popular. E falando do racismo ambiental também, porque essas comunidades são as mais atingidas”, observa a comunicadora.

Luta comunitária

No Gueto Hub, os irmãos Jean e Guydo contam com o apoio e o entusiasmo da mãe, Jeane Ferreira. Ela ajudou, desde o começo, a montar em um imóvel da família uma biblioteca comunitária, que acabou se consolidando como ponto cultural de referência na região. 

“A gente faz oficina, faz eventos, tem a biblioteca, incentivamos a comunidade a cuidar do meio ambiente local, não jogar lixo no canal [da Travessa Quintino] e, pouco a pouco, a coisa foi se fortalecendo”, conta a matriarca. Ela própria já foi líder comunitária do bairro Jurunas no passado e ajudou na pressão por obras de esgotamento sanitário e outras intervenções urbanas para a melhorar a infraestrutura. Hoje, acompanha a iniciativa dos filhos, com orgulho.

“Ainda há tempo de sonhar, né? Porque na nossa época já não existiu isso. A gente tinha vala transbordando, enchia as casas, essa rua não era asfaltada. Isso aí foi tudo luta, luta popular. Luta popular que a gente conseguiu”, destaca.

No dia em que a reportagem da Agência Brasil visitou o Gueto Hub, o músico Renato do Pife, de Campina Grande, na Paraíba, estava no local fabricando pífanos com canos reciclados de PVC. Ele veio para a COP30 participar de atividades de mobilização sociocultural com as comunidades do Pará e realizar oficinas musicais sobre o tradicional instrumento de sopro nordestino.

“Eu vim para conhecer mais a cultura paraense, especialmente o carimbó, que gosto muito, e multiplicar o conhecimento dos pífanos, que é um instrumento muito democrático, fácil de fazer, acessível. Você só precisa do cano e sete furos. E toca todas as músicas, faz todas as notas”, diz.

Fonte: Agência Brasil

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