Desde 6 de agosto de 2025, os Estados Unidos aplicam uma sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros, elevando para 60% a alíquota total sobre alguns itens. Essa medida tem causado impactos significativos no Pará, especialmente no município de Barcarena, que, segundo levantamento do jornal O Estado de São Paulo, é o mais afetado da região, com perdas superiores a US$ 344 milhões em exportações. Barcarena ocupa a quarta posição nacional entre os municípios mais prejudicados, ficando atrás apenas de cidades de São Paulo e Minas Gerais. Isso ocorre porque a economia local é incomum para a região Norte: seu parque industrial é centrado em produtos químicos inorgânicos, compostos metálicos preciosos e elementos radioativos, setores altamente afetados pelas tarifas. Enquanto a região Norte geralmente exporta bens de menor valor agregado, como frutas e pescados, a especialização de Barcarena em produtos químicos amplifica o impacto da medida.
A Federação das Indústrias do Estado do Pará (Fiepa) alerta que a sobretaxa não só ameaça as exportações, mas também pode provocar desemprego em massa nos setores de mineração, metalurgia e, principalmente, na indústria do alumínio primário, um dos pilares econômicos do município. Embora alguns produtos exportados pelo Pará, como alumina calcinada, ferro fundido e outros silícios, tenham sido isentos da tarifa, o impacto geral ainda é significativo. Estima-se uma queda de 1,1% nas exportações estaduais, o que pode reduzir o PIB em R$ 403 milhões, comprometendo a projeção de crescimento para 2025.
Além dos efeitos econômicos, a medida traz preocupações sociais importantes. A retração nas exportações da indústria química pode comprometer a renda de muitos trabalhadores locais, além de enfraquecer o comércio e a economia da região. O setor pesqueiro, outro segmento relevante para o Pará, também sente os efeitos da sobretaxa. Em 2025, as exportações de pescados para os EUA somaram cerca de US$ 15 milhões, e a imposição de tarifas elevadas ameaça inviabilizar essas vendas, segundo a Associação Brasileira dos Exportadores de Pescados (Abipesca). Isso pode resultar em demissões e paralisações de embarcações pesqueiras.
No plano diplomático, a sobretaxa faz parte de uma crise entre Brasil e Estados Unidos, com retaliações econômicas e consultas na Organização Mundial do Comércio (OMC). O governo brasileiro tem adotado medidas de resposta, como tarifas recíprocas e busca por diversificação de mercados, visando mitigar os efeitos das restrições americanas.
Diante desse cenário, Barcarena e outros municípios da região enfrentam o desafio de conter os prejuízos causados pela guerra comercial, o que inclui a necessidade urgente de políticas públicas de apoio, como linhas de crédito facilitadas, adiamento de impostos e incentivos para diversificação da pauta exportadora. A situação expõe a vulnerabilidade estrutural de polos industriais como Barcarena, que, apesar de sua importância econômica, carecem de respaldo para enfrentar choques externos dessa magnitude.