A manhã desta sexta-feira (25) foi marcada pela instalação de uma nova ecobarreira no Canal da Tamandaré, no bairro da Cidade Velha, em Belém. A estrutura, desenvolvida para reter resíduos sólidos flutuantes, foi financiada pela empresa Natura, em parceria com a Prefeitura de Belém e o Governo do Pará, por meio do projeto Natura Elos, voltado à sustentabilidade e à logística reversa.
Mas o que mais chamou atenção na ação foi a presença — dentro do canal — do próprio prefeito de Belém, Igor Normando. Vestindo traje de segurança, o gestor fez questão de pisar na água poluída para “inspecionar” a estrutura de perto. A cena, registrada em vídeos e fotos divulgados nas redes sociais, reacendeu o debate sobre a nova estratégia de políticos em busca de engajamento online.
“É muito importante essa parceria entre o poder público e as empresas que atuam na nossa região. Esse projeto simboliza um compromisso que nós firmamos desde o início do nosso governo: a busca por inovação para melhorar a vida das pessoas”, declarou Normando.
A fala, no entanto, dividiu opiniões. Minutos após a instalação, já era possível ver uma quantidade expressiva de lixo acumulado na ecobarreira — uma evidência, segundo ambientalistas, de que o problema é mais profundo e não se resolve apenas com ações pontuais ou performances para as redes.
A política do espetáculo
Segundo o cientista político Jorge Rezende, professor da UFPA e pesquisador do comportamento político nas redes, a presença do prefeito dentro do canal não é um gesto isolado. “O que estamos vendo em Belém é um exemplo claro do que chamamos de populismo performático digital. Não se trata apenas de governar, mas de produzir cenas de impacto. Políticos como Normando entenderam que, na era das redes, a imagem vale tanto quanto — ou até mais do que — a política pública em si”, analisou.
Esse tipo de atitude se tornou recorrente no perfil de Normando, que aposta em vídeos virais, memes e aparições inesperadas como forma de consolidar sua imagem pública. Se, por um lado, isso aproxima o gestor da população e amplia o alcance de temas importantes, por outro, pode camuflar a ausência de soluções estruturais e duradouras.
Problema antigo, soluções paliativas
A ecobarreira instalada é feita de ferro armado e tonéis plásticos flutuantes. As laterais curvas ajudam a reter os resíduos, facilitando a coleta por agentes de limpeza. A tecnologia é assinada por Diego Saldanha, morador do Paraná, que esteve presente na instalação. “Desenvolvi essa ideia porque havia um rio poluído perto da minha casa. Belém é, com certeza, o maior desafio que já enfrentamos”, disse ele.
Apesar do avanço simbólico, os dados da própria Prefeitura mostram que o lixo nos canais segue sendo um problema grave. O município investe cerca de R$ 3 milhões mensais apenas na limpeza de canais e córregos, mas o descarte irregular de resíduos continua como principal causador de alagamentos e poluição.
Durante o evento, o prefeito também apelou à responsabilidade da população. “A população não pode jogar lixo nos canais. Não pode. Precisa colaborar conosco”, reforçou. Mas críticos apontam que não há campanhas educativas de grande impacto nem política consistente de fiscalização e punição.
A diretora do projeto Natura Elos, Sabrina Sanches, explicou que a iniciativa tem como foco impedir que os resíduos cheguem a grandes cursos d’água. “Tem tudo a ver com nossa estratégia de regeneração e proteção dos ecossistemas hídricos”, afirmou.
A ecobarreira pode ser eficaz como contenção de danos, mas, sem uma política de educação ambiental, coleta seletiva eficiente e infraestrutura de saneamento básica, especialistas alertam que a cidade seguirá enxugando gelo — com ou sem prefeito dentro da água.