A Operação Hades, deflagrada pelo Ministério Público do Estado do Pará (MPPA), expôs uma diferença milionária entre os bens declarados pelo prefeito afastado de Ananindeua, Daniel Santos (PSB), e o que efetivamente está em seu nome, segundo a investigação. Em 2024, Daniel informou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) possuir um patrimônio de R$ 4.849.539,60. No entanto, a força-tarefa do MPPA determinou o bloqueio de R$ 140 milhões em bens atribuídos a ele — um valor 2.787% superior ao declarado oficialmente, ou seja, quase 28 vezes mais.
A discrepância foi revelada a partir da análise de documentos, planilhas e mensagens encontradas em celulares apreendidos durante os mandados de busca e apreensão cumpridos no último dia 5 de agosto. De acordo com o promotor Armando Azevedo, coordenador do Centro Integrado de Investigação do MPPA, os indícios apontam para um esquema de favorecimento de empreiteiras ligadas ao setor de urbanismo do município, que, em troca de contratos milionários com a prefeitura, teriam financiado bens pessoais do prefeito e de aliados próximos.
Entre os bens adquiridos com recursos de origem suspeita estão uma retroescavadeira de R$ 700 mil, tratores avaliados em R$ 3 milhões, uma aeronave com parcelas que totalizam R$ 10 milhões, além de R$ 1,3 milhão em combustíveis. A operação ainda apreendeu R$ 2,5 milhões em relógios de luxo em um apartamento de alto padrão alugado por Daniel em Fortaleza (CE).
Boa parte desses bens estaria em nome de terceiros ou vinculada a empresas ligadas à família e a aliados do gestor, como a JD Agropecuária, que registraria fazendas e maquinários em Tomé-Açu. As empreiteiras citadas na investigação são Edifica, Everest, Martins e DSL — esta última teria depositado diretamente R$ 2,2 milhões para a aquisição da aeronave.
O MPPA aponta a existência de um núcleo formado por servidores públicos e empresários, responsável por fraudar licitações, movimentar dinheiro público por vias privadas e ocultar patrimônio. Os crimes apurados incluem corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro, peculato, organização criminosa e fraude em licitação.
Ao todo, a Justiça determinou o bloqueio de R$ 500 milhões em bens dos investigados. Só Daniel Santos responde por R$ 140 milhões desse total, valor amplamente incompatível com a evolução patrimonial apresentada nas últimas eleições. Em 2020, por exemplo, ele declarou R$ 2 milhões. Já em 2018, ano em que se elegeu deputado estadual, seu patrimônio informado foi de apenas R$ 351 mil.
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