agosto 22, 2025
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“Vamos morrer eletrocutados”. Indígenas e quilombolas ocupam sede da Semas contra linha de energia no Pará

Indígenas e quilombolas de Tomé-Açu ocupam a Semas em Belém. Ângela Turiwara, grávida, denuncia riscos da linha de energia. Jovem diz que só saem com acordo. Pará tem histórico de quedas de torres.

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 “Meu filho pode nascer e morrer eletrocutado.” A declaração é de Ângela Turiwara, indígena grávida de 7 meses, durante entrevista ao portal O FATO, nesta quarta-feira (4), enquanto participava da ocupação à sede da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas), em Belém. Ao lado de parentes e lideranças das etnias Turiwara, Tembé e de comunidades quilombolas de Tomé-Açu, cerca de 250 pessoas. Ângela demonstrou profunda preocupação com os impactos da instalação de uma linha de transmissão de energia sobre seus territórios tradicionais.

Segundo ela, duas torres da linha já desabaram na região, aumentando o medo entre os moradores. “Não houve acordo. A empresa afirma que vai realizar os estudos no território, mas só depois da liberação dada pela Semas. Isso não é consulta, é imposição”, pontuou.

A ocupação reúne representantes de dez aldeias Turiwara, uma aldeia Tembé e comunidades quilombolas do município, que exigem a imediata suspensão da obra e a revisão da Licença Prévia nº 1758/2019. O documento, concedido pela própria Semas, autorizou a instalação da linha de 230 kV entre Vila do Conde (Barcarena) e Tomé-Açu.

As lideranças denunciam a ausência de consulta livre, prévia e informada, direito garantido pela Convenção 169 da OIT, e classificam a atuação do Estado como desrespeitosa e violadora dos seus modos de vida. “Estão passando por cima da gente como se fôssemos obstáculos”, relatou uma liderança quilombola presente na mobilização.

A estudante Angella Gonçalves, 20 anos, também participa do protesto. Para ela, a ocupação só deve terminar com um compromisso firmado. “A gente não vai sair daqui sem um acordo. Já esperamos demais. As lideranças indígenas estão reunidas agora para conversar, mas nossa decisão é firme: sem resposta, sem recuo.”

A Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas) informa que está em diálogo com a comunidade indígena Turiwara e com representantes do Quilombo Nova Betel e que se colocou à disposição para mediar as negociações entre as comunidades e representantes da empresa de energia Etepa.

A reportagem também tentou contato com a Etepa e segue à disposição para esclarecimentos.

Histórico de quedas e riscos envolvendo torres no Pará

Os receios das comunidades são sustentados por um histórico preocupante de acidentes com torres de energia no Pará. Em abril de 2023, duas estruturas da mesma linha que atravessa Tomé-Açu desabaram após atos de vandalismo. Em janeiro de 2025, cinco torres da linha Xingu-Terminal Rio ruíram durante uma tempestade, interrompendo o fluxo de 4 GW da energia de Belo Monte.

Casos fatais também marcaram o cenário recente. Em setembro de 2024, uma torre desabou durante a construção entre Anapu e Pacajá, matando seis trabalhadores. No mesmo mês, outras quatro estruturas cederam em Santana do Araguaia, afetando linhas de transmissão e deixando áreas vulneráveis ao apagão.

O que os povos indígenas e quilombolas cobram é um processo transparente, técnico e com diálogo real. A permanência na sede da Semas segue de forma pacífica e sem previsão de encerramento.

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