Na mira de uma investigação da Polícia Federal que apura fraudes em licitações e desvio de recursos públicos, a Construtora Prosolo Ltda, com sede em uma casa simples e sem estrutura corporativa em Boa Vista, venceu duas licitações milionárias da Prefeitura de Bonfim.
Os contratos foram homologados no mês de setembro, dias antes de a empresa ser alvo de uma investigação que apurou fraudes em um certame anterior, de aproximadamente R$ 8 milhões.
Juntas, as novas contratações ultrapassam R$ 58 milhões. O primeiro contrato, de R$ 41,9 milhões, foi homologado no dia 2 de setembro, prevendo serviços de manutenção e conservação de estradas vicinais.
O segundo, no valor de R$ 16,4 milhões, foi assinado em 8 de setembro, com vigência de 300 dias, para execução dos mesmos serviços, financiados por meio do Convênio nº 42/2025 com a Secretaria de Infraestrutura do Estado (SEINF).
Ambos os contratos foram firmados já na gestão do atual prefeito Romualdo Feitosa (Republicanos), aliado político do ex-prefeito Joner Chagas (Republicanos), apontado pela Polícia Federal como articulador de um esquema de desvio de verbas públicas durante sua administração.
No dia 15 de outubro, o Tribunal de Contas de Roraima (TCERR) determinou a suspensão do contrato de R$ 41,9 milhões, após constatar falhas graves na licitação, como uso indevido do pregão presencial, ausência de estudos técnicos e planilhas de custo, e a classificação irregular do objeto como “serviço comum de engenharia”, embora envolvesse obras complexas.
Contrato anterior alvo da PF
A Prosolo já havia firmado contrato anterior com a prefeitura em 2024, durante a gestão de Joner Chagas, no valor de R$ 8,38 milhões, também para serviços de manutenção de vicinais. Segundo relatório da Polícia Federal, foi justamente desse contrato que se originaram os R$ 510 mil em espécie apreendidos durante a operação, valor apontado como resultado de medições fraudulentas e desvio de verbas públicas.
As investigações apontam que Joner mantinha contato direto com a empresária Mariângela Moletta, sócia da Prosolo, com quem combinava o valor das medições e a liberação de pagamentos. As conversas via WhatsApp, interceptadas pela PF, mostram que ele definia de forma arbitrária o número de quilômetros executados, sem correspondência com o que havia sido realmente feito, o que caracterizava fraude.
Pagamentos via PIX
Segundo o relatório, os diálogos revelam também que Joner orientava repasses de dinheiro e transferências bancárias. Minutos antes do flagrante, ele teria autorizado três transferências — de R$ 37,6 mil, R$ 35 mil e R$ 10 mil — para Mariângela, parte delas encaminhada via PIX à filha do pregoeiro municipal, Wendry Rayka Amorim King, filha de Cirilo Francis de King e Campos Júnior, apontado como peça-chave para viabilizar a contratação da Prosolo.
A PF destacou ainda que a empresa funcionava em uma casa comum, sem estrutura física, maquinário ou frota compatível com contratos de grande porte, reforçando a suspeita de que atuava como empresa de fachada para movimentar recursos públicos desviados.
Flagrante e prisões
O flagrante que levou às prisões ocorreu no dia 30 de setembro. Mariângela, sua filha Juliana Moletta Nascimento e Emiliano Natal do Nascimento foram monitorados por câmeras em uma agência do Banco do Brasil, em Boa Vista, realizando saques sucessivos de grandes valores. Eles foram abordados por policiais federais logo após deixarem o local, sendo presos em flagrante com R$ 510,2 mil em espécie.
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