julho 30, 2025
InícioDestaquesPARÁMPF pede anulação de contrato bilionário de créditos de carbono firmado pelo...

MPF pede anulação de contrato bilionário de créditos de carbono firmado pelo governo do Pará

Ação judicial questiona legalidade do acordo internacional e aponta ausência de consulta às comunidades tradicionais

Publicado em

O Ministério Público Federal (MPF) no Pará protocolou nesta terça-feira (3) uma ação na Justiça Federal pedindo a suspensão imediata e a anulação de um contrato internacional de R$ 1 bilhão para venda de créditos de carbono, firmado entre o governo do estado e uma coalizão de governos estrangeiros e empresas multinacionais. O MPF afirma que o acordo viola a legislação brasileira e não respeita os direitos de comunidades tradicionais.

Segundo a ação, o contrato caracteriza venda antecipada de créditos de carbono — prática proibida pela legislação que regula o mercado no Brasil. O MPF também aponta que não houve consulta prévia, livre e informada às comunidades afetadas, conforme exigido por lei.

A ação é movida contra a União, o Estado do Pará e a Companhia de Ativos Ambientais e Participações do Pará (CAAP). O MPF pede ainda a suspensão da elegibilidade do estado para receber recursos do mercado de carbono até que seu sistema esteja em conformidade com a legislação.

O órgão ressalta que o governo estadual estaria acelerando a aprovação de seu sistema de carbono para apresentá-lo durante a 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP 30), que ocorrerá em novembro, em Belém. De acordo com os procuradores, esse processo tem causado pressão indevida sobre comunidades indígenas e tradicionais, com consultas realizadas de forma apressada.

Outro ponto destacado é o valor fixado no contrato: US$ 15 por tonelada de carbono. O MPF considera o preço baixo e afirma que isso intensifica a pressão sobre os territórios das comunidades envolvidas. Também é questionada uma cláusula contratual que prevê ressarcimento à coalizão internacional em caso de contestação judicial, o que, segundo o MPF, viola a legislação brasileira.

Além da anulação do contrato, o MPF solicita que o Estado do Pará seja condenado ao pagamento de R$ 200 milhões por danos morais coletivos, em razão da negociação de recursos ambientais sem consulta adequada às populações atingidas.

Tentativa de conciliação

No mesmo dia, o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) realizou audiência de conciliação, após solicitação do governo do Pará e da CAAP para suspender recomendação anterior do MPF e do Ministério Público do Estado do Pará (MPPA). A tentativa foi rejeitada pelo MPF, que argumenta estar agindo em defesa da legalidade e dos direitos socioambientais.

A ação segue diretrizes internas do MPF para casos relacionados ao mercado de carbono, priorizando a proteção de povos indígenas e comunidades tradicionais. O documento orientador do órgão descreve riscos e práticas abusivas no setor, e reforça a necessidade de consulta prévia e repartição justa de benefícios.

Resposta do governo do Pará

Em nota oficial, o governo do Pará e a CAAP afirmam que o contrato é um “pré-acordo” sem transações efetivas ou obrigações financeiras imediatas, sendo condicionado à validação técnica futura. As instituições defendem que o documento está de acordo com a legislação estadual e com o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE).

Sobre a consulta às comunidades tradicionais, o governo afirma que está conduzindo o maior processo de consulta já realizado no estado, com 47 comunidades envolvidas. As consultas, segundo a nota, seguem os parâmetros da Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a legislação nacional.

O governo também nega que haja cláusulas que permitam revenda de créditos e afirma que todas as informações do processo estão disponíveis publicamente no Portal do REDD+.

A controvérsia deve se intensificar nas próximas semanas, com a proximidade da COP-30. O resultado da ação judicial pode influenciar diretamente a regulamentação do mercado de carbono no Brasil. A decisão da Justiça sobre o pedido do MPF ainda não foi divulgada.

spot_img

Últimos Artigos

MP deflagra Operação Sepulcro para investigar cemitério clandestino usado por facção venezuelana em Boa Vista

O Ministério Público de Roraima (MPRR) deflagrou na manhã desta quarta-feira (30) a Operação...

Pré-candidata ao governo do AM, Maria do Carmo Seffair critica Omar Aziz e diz que interior está abandonado

A empresária e pré-candidata ao Governo do Amazonas, Maria do Carmo Seffair (PL), fez...

Carla Zambelli é presa na Itália após quase dois meses foragida

A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) foi presa nesta terça-feira (29) na Itália, onde...

MPF recomenda retorno de aulas do ensino médio em territórios quilombolas em Santarém (PA), paradas há cinco meses

O Ministério Público Federal (MPF) enviou uma recomendação ao Governo do Estado do Pará...

Mais como este

MP deflagra Operação Sepulcro para investigar cemitério clandestino usado por facção venezuelana em Boa Vista

O Ministério Público de Roraima (MPRR) deflagrou na manhã desta quarta-feira (30) a Operação...

Pré-candidata ao governo do AM, Maria do Carmo Seffair critica Omar Aziz e diz que interior está abandonado

A empresária e pré-candidata ao Governo do Amazonas, Maria do Carmo Seffair (PL), fez...

Carla Zambelli é presa na Itália após quase dois meses foragida

A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) foi presa nesta terça-feira (29) na Itália, onde...