Uma rodovia que interliga duas cidades, dois estados, pode ser comparada a uma artéria do corpo humano. Quando obstruída, ou não funciona como deveria, todo o organismo sente as consequências, podendo até mesmo não suportar e sucumbir. Quando uma rodovia não tem a manutenção necessária, se torna um caminho problemático, ocasionando prejuízos para o bolso do motorista e para a economia. Mas não é só a parte financeira que pesa. A vida também está em risco.
A BR-174, organismo que liga Roraima ao restante do país já não suporta a quantidade de obstruções, buracos, lama e pedras que dificultam o trajeto de quem precisa percorrer a rodovia, sentido Boa Vista-Manaus, especialmente o trecho de pouco mais de 120 km, que corta a Terra Indígena Waimiri-Atroari, na divisa entre Roraima e Amazonas.
O que chama a atenção nos primeiros 70 km, a partir de quando o motorista entra na Reserva Indígena, é que apesar dos buracos e trechos onde é preciso ter um cuidado redobrado, o trecho gera desconforto, mas não pode ser considerado intrafegável. Entretanto, a partir do momento em que se cruza a ponte de 200 metros de extensão sobre o rio Alalaú, divisa natural entre Roraima e Amazonas, o cenário muda e a viagem se transforma totalmente.
O asfalto antes presente, dá lugar a quilômetros de atoleiros, lama e pedras. Pedras que por um lado ajudam os motoristas a não atolar o veículo tão facilmente. Mas por outro, trazem prejuízos a quem precisa trafegar rotineiramente pela estrada.
É o caso de Paulo Paulino. Duas vezes por semana ele faz uma viagem de ida e volta entre os dois Estados. “Essas pedras acabam entrando entre os pneus do caminhão, que furam ou estouram. E o patrão acaba repassando o prejuízo pra gente. Complicado trabalhar nesse pedaço, porque tá tudo abandonado. São cinco horas pra fazer um percurso de 120 km”, lamentou.
Esse relato, somado a tantos outros que ganharam repercussão principalmente nas redes sociais, motivou a Comissão de Obras da Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR), a percorrer os mais de 750 km entre Boa Vista e Manaus, para buscar soluções para a artéria rodoviária que liga os dois estados.
“É uma vergonha. Nós estamos acompanhando aqui a situação dos motoristas que passam por esse trecho e não há palavras para descrever. Vemos os caminhões passando, carros pequenos, todos com dificuldade de enfrentar a estrada. Esse é um problema muito antigo, por isso é vergonhoso o Governo Federal nunca ter tomado providências”, comentou o deputado Renato Silva (Pros), presidente da Comissão de Viação, Transporte e Obras, da Assembleia Legislativa de Roraima.
Além dele, a deputada Angela Águida Portella (PP), vice-presidente da Comissão, os deputados Neto Loureiro (PMB), Catarina Guerra (União), membros da Comissão, além de Armando Neto (PL) e Dr. Cláudio Cirurgião (União), integravam a comitiva que percorreu a estrada.
“Nós vamos nos reunir com parlamentares e autoridades amazonenses em busca de uma solução. O trecho com as piores condições fica no Amazonas, mas nós de Roraima sentimos na pele a dificuldade de percorrer esse trajeto. Temos receio do desabastecimento de alimentos, remédios, combustível, e tudo o que é transportado pela BR-174, do Amazonas até Roraima”, destacou Ângela Águida Portella.
Para o deputado Neto Loureiro, membro da Comissão de Obras, o Poder Legislativo precisa interferir com tratativas para que a revitalização da BR-174 seja feita de uma forma mais ágil. “Esse é o único meio terrestre de ligação entre Roraima e o restante do Brasil. Vamos levar essa demanda para que o DNIT entre em campo, principalmente nesse trecho do estado do Amazonas, pois é onde a estrada está completamente acabada. Vamos colher informações e ajudar a resolver esse problema”, ressaltou.
RUMO AO AMAZONAS
A viagem começou pouco depois das cinco da manhã, partindo de Boa Vista. O percurso até a sede de Rorainópolis, distante cerca de 260 km, foi percorrido tranquilamente. Alguns trechos com buracos ou em manutenção, até já fazem parte do cotidiano de quem percorre esse trajeto com frequência. Para os menos acostumados, é preciso um pouco mais de atenção, mas nada além do que é necessário em qualquer viagem por rodovias no nosso país.
A partir de sede de Rorainópolis, a 174 passa pela vila Nova Colina, e em seguida cruza a linha do meio do mundo, seguindo para o hemisfério Sul do planeta, após a vila do Equador (que tem esse nome por ser onde passa a linha do Equador, que divide a Terra nos hemisférios Sul e Norte). A última vila em solo roraimense é o Jundiá, onde fica o posto de fiscalização da Secretaria Estadual da Fazenda. O local marca a entrada oficial em Roraima, pois é onde onde se registra o ingresso no estado de cargas ou qualquer tipo de produto.
Ali começa o pior trecho da BR-174 sentido Sul. E se é um problema para o trânsito de caminhões ou caminhonetes, quem tem carros mais populares, acaba enfrentando dificuldades ainda maiores. “Eu sou de Manaus e vim passar férias em Boa Vista. Quando a gente veio estava bem pior, mesmo assim ainda é horrível. Quem tem carro pequeno sofre nesse trecho da estrada”, lamentou a bancária Fernanda Lima.
Da mesma forma, Jessé dos Anjos, que é caminhoneiro, lembrou as dificuldades que é passar pela estrada que ele considerava como umas das melhores pelas quais trafegava, no cumprimento do ofício. “É um sentimento de abandono. Uma estrada que leva combustível, alimentação para Roraima e que está nessas condições. Esse ano está sendo um dos piores para nós, caminhoneiros”, frisou.
Os deputados estaduais Armando Neto e Dr. Cláudio Cirurgião, também acompanharam o trabalho de fiscalização da Comissão de Obras. “Viemos a convite do deputado Renato Silva, e verificamos que exatamente na transição, após a ponte sobre o rio Alalaú, começa um trecho crítico. Por isso estamos buscando apoio, tanto da bancada federal de Roraima quanto do Amazonas, para manutenção desse trecho”, disse o parlamentar.
“Vamos em busca de uma resposta positiva para o estado de Roraima, que precisa dessa espinha dorsal, que é a BR-174. Precisamos unir forças para resolver os problemas dessa estrada e melhorar a qualidade de vida da nossa população”, complementou o deputado Armando Neto.
Além dos deputados estaduais, representantes do Ministério Público de Contas de Roraima (MPC-RR) também acompanharam a comitiva. O objetivo é subsidiar o relatório técnico que tem como base a vistoria da BR-174 pelos membros da Comissão de Viação, Transporte e Obras. “Nós temos dois engenheiros na nossa equipe, para analisar critérios técnicos para incrementar o relatório que será produzido pelos parlamentares”, completou Sidney Minholi, presidente da Comissão do Laboratório de Engenharia do MPC-RR.
De acordo com a deputada Catarina Guerra, é possível identificar diversos pontos críticos na estrada, porém a presença de equipes do DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) é mais tímida. “Estamos buscando informações, colhendo imagens para concluir esse relatório e apresentar às autoridades competentes, para unir forças dos dois estados, apresentando um resultado positivo para a população”, finalizou a parlamentar.
AGENDA
Os deputados estaduais roraimenses devem se reunir na segunda-feira, 13, com o senador amazonense Eduardo Braga (MDB). Na terça-feira, 14, os parlamentares irão participar da sessão plenária na Assembleia Legislativa do Amazonas (ALEAM), e em seguida participam de uma reunião com o presidente da Casa, o deputado estadual Roberto Cidade (União). O assunto dos encontros será a busca por soluções para o trecho Sul da BR-174, em especial, o percurso que cruza a Terra Indígena Waimiri-Atroari.
Foto: Marley Lima/ALERR